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Daniela Mercury e Malu Viçosa - felizes |
Essa semana, vagando pela internet, vi a notícia de que a Daniela Mercury assumiu o relacionamento dela com uma mulher, que a Adriana Calcanhotto oficializou a relação dela com outra... E adivinhem só: achei o máximo. Fiquei feliz. Fiquei orgulhosa.
"Mas isso não é da conta de ninguém, não diz respeito a mim e eu não me importo."
Ok, pode até ser.
Mas, se por esse motivo a notícia não deveria existir, também não deveriam existir as seguintes notícias:
e uma infinidade de outras na mesma linha.
Ora, se um casal hétero pode gritar pra todo mundo que casou, que tá junto, que se ama, enfim; se um casal hétero pode dar um festão de casamento e sair em jornal, em revista de fofoca, em site de notícia; se um casal hétero aparece junto pela primeira vez em público e se faz disso uma grande coisa; se um casal hétero se separa, briga, se trai e isso vira manchete (e por aí vai), por que não poderia acontecer o mesmo com quem é gay/lésbica?
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Adriana Calcanhotto e Suzana de Moraes - felizes |
Nessa época de Felicianos, Malafaias e Bolsonaros, tanto anônimos quanto famosos, dizer "sou gay/lésbica/bi/trans+, eu amo, eu tenho minha vida e tô feliz" é uma forma de dar visibilidade à população LGBT+. "É, tão querendo aparecer, né? Querem mostrar pra todo mundo sua sem-vergonhice e querem ter privilégios e blablablá." Não, não dessa forma que tem muita gente pensando.
A visibilidade da qual eu tô falando aqui é aquela que precisa acontecer pra que se lembrem da gente. Pra que se lembrem que a gente também quer poder casar, também quer sair na rua de mão dada, também quer comprar casa junto, quem sabe ter filho, ter plano de saúde e, se precisar, se separar. E, se for o caso de uma separação, a gente quer que ela seja justa, que se decida o que fazer com a casa, o carro, os filhos e o plano de saúde da mesma forma que acontece quando um casal heterossexual se divorcia.
A visibilidade é importante pra lembrarem que a gente também quer ter direitos. É essencial pra que saibam que a gente existe. E, sabendo que nós existimos − e em tão grande quantidade (não, a população LGBT+ não surgiu há poucos anos, não é uma praga se espalhando e não tá "todo mundo virando gay") − talvez possa começar a acontecer o que eu chamo de "convencimento das pessoas de que ser LGBT+ é comum e natural". E aí isso, junto com outras medidas necessárias para diminuir o preconceito tanto no Brasil quanto no resto do mundo, vai dar cada vez mais segurança pra quem tem medo de andar na rua vestido do jeito que gosta, pra quem tem medo de sentar abraçado com quem ama no banco da praça, pra quem morre de medo de contar pra família que é gay (e quem é que tem medo de contar que é hétero?), pra quem não é chamado pelo nome social levantar a voz e dizer "meu nome é ____, eu não gostei de como tu me chamou e por favor, usa os pronomes certos".
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Ivete e Xuxa - felizes |
Enfim, quem tá dentro do armário deveria se sentir seguro pra sair, se quiser. Sem medo. Até que não vai mais ser um grande bafafá quando se descobre que "fulaninho é uma bicha" ou "beltraninha é sapatão".
E eu espero ansiosamente pelo dia em que não vai ter diferença nenhuma, pra ninguém, se a Xuxa casou com o Luciano Szafir ou com a Ivete Sangalo.
Mariane Cast, estudante de Artes, atuante no G8-G,
lésbica nas horas vagas e não-vagas