sexta-feira, 12 de outubro de 2012

GUEST POST: Nesse National Coming Out Day, não deixe a empatia no armário



Ontem foi o National Coming Out Day - o dia nacional de "sair do armário". A iniciativa é feita para trazer ao Brasil o movimento sobre o tema, que é feito desde 11 de outubro de 1988, nos EUA, e é celebrado também em países como Austrália, Canadá e Alemanha. A proposta levantada aqui não é determinar um dia para se sair do armário, mas sim levantar o debate sobre a importância (ou não) de mostrar-se publicamente como "diferente".

“Todxs têm que se assumir.”
 “O mau do movimento LGBTQ são xs gays/trans que não se assumem.”
“Tem que ter coragem pra viver e ser feliz.”

Hoje é o National Coming Out Day - dia nacional de sair do armário - e o tenho ouvido muito isso. Não só hoje, são falas comuns, e me entristecem. Entendo a iniciativa de quem deseja felicidade dxs LGBTQ, mas gostaria de pedir um pouco mais de empatia e de compreensão. Vamos, por favor, lembrar que se assumir com segurança é um privilégio que nem todxs têm - e que exigir isso, em nome de um movimento social ou, pior, fazê-lo em tom paternalista, como quem sabe o que é melhor para x outrx, é injusto pra dizer o mínimo. 

Com a palavra privilégio não pretendo desmerecer de maneira nenhuma o sofrimento e a coragem que eu imagino que o ato de se assumir exige de qualquer umx, em qualquer classe, cultura ou ambiente familiar. Viver a identidade sempre exige sacrifício, e o sacrifício feito por nós é sempre o maior - e tudo bem. Sei que é difícil olhar para a própria vida e se enxergar umx privilegiadx, nossa vida sempre é a norma. Mas, nesse dia, peço menos dedos apontados àquelxs que não têm condições de assumir quem são. Seja por medo ou real possibilidade de serem expulsxs de casa, de serem agredidxs na rua, de perderem o amor da família, de serem rejeitadxs na comunidade em que vivem - por medo ou real possibilidade de algum desses exemplos, de todos ou de nenhum.

Não devia ser novidade que tem quem pague o preço da própria identidade com a vida. Ou com o emprego, com a carreira, com o isolamento dos amigos e dos familiares, com a integridade física e psicológica. É ingênuo, sinto dizer, afirmar que só a felicidade aguarda para além da porta do armário. Pensamento otimista, no máximo. Aos que conseguiram e se encontraram do outro lado, toda a felicidade do mundo - mas não são delxs que falo aqui. 

Cabe a nós, assumidxs e aliadxs privilegiadxs, que podemos viver nossas identidades e ideologias com um mínimo de segurança, lutar pra construir um mundo em que TODXS possam ser quem são, sem medo. Nesse National Coming Out Day, que se celebre xs amigxs que estão fora do armário e que se apóie, sem julgamentos, xs que ainda estão. Que fiquem segurxs até que o lado de fora possa recebê-lxs. Hoje e sempre, que se apontem menos dedos e se estendam mais as mãos.

Natália Otto, estudante de jornalismo.

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