quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Tarde de Direitos da Mulher no Campo da Tuca!
domingo, 7 de novembro de 2010
Seminário da 14° Parada Livre de Porto Alegre
A Parada Livre desse ano traz uma novidade: terá em sua programação o Seminário "A sexualidade tem todas as cores", que visa introduzir à discussão importantes assuntos que estarão presentes na 14º Parada Livre do dia 28 de novembro, que ocorre a partir das 14h na Redenção de Porto Alegre.
O seminário que conta com o apoio do SAJU-UFRGS através do grupo G8-Generalizando, será realizado no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS, com uma programação que durará todo o dia 23 de novembro (terça-feira).
Confira a Programação!
História Movimento do LGBT no RS - 10h às 12h
Mediador: Fernando Seffner (UFRGS)
Painelistas:
- Célio Golin (Nuances)
- Claudete Costa (Liga Brasileira de Lésbicas)
- Alexandre Böer (SOMOS - Comunicação, Saúde e Sexualidade)
- Marcelly Malta (Igualdade RS)
O Reconhecimento do Estado às múltiplas sexualidades -14h às 16h
Mediadora: Gabriela Souza Antunes (G8-Generalizando / SAJU-UFRGS)
Painelistas:
- Rui Portanova (Desembargador TJRS)
- Roger Raupp Rios (Juiz Federal)
- Márcia Medeiros de Farias (Ministério Público do Trabalho RS)
- Célio Golin (Nuances)
Coffee Break
Horário: 16h às 16h30
Identidade de Gênero: Fronteiras e Transgressões - 16h30 às 18h30
Mediadora: Cláudia Penalvo (SOMOS - Comunicação, Saúde e Sexualidade)
Painelistas:
- Guacira Lopes Louro (UFRGS)
- Henrique Nardi (UFRGS)
- Elisabeth Zambrano (UFRGS)
- Marcelly Malta (Igualdade RS)
Oficina na Escola Marcírio Goulart Loureiro
II SAJU em Debate!
Aconteceu nos dias 23 e 24 de outubro de 2010 a 2° Edição do "SAJU em Debate", evento sajuano que tem como proposta reunir membros dos diversos grupos do SAJU para debaterem questões importantes sobre as práticas, fundamentos teóricos e problemáticas da entidade.
O evento ocorreu na sede do Convento dos Freis Capuchinhos, com a duração de dois dias. Participaram representantes dos grupos sajuanos GAP (Grupo de Assessoria Popular), G2 (Grupo de Cível, Família e Trabalhista), G5 (Grupo de Direitos da Criança e Adolescente), G6 (Grupo de Cível e Família), G9 (Grupo de Direitos da Criança e Adolescente), GM (Grupo de Mediação), GAJUP (Grupo de Assessoria Justiça Popular) e G8-Generalizando.
Entre as questões discutidas, foram abordados os temas "SAJU 60 anos", "Novas Possibilidades de Atuação na Efetivação dos Direitos Humanos", "RENAJU (Rede Nacional de Assessorias Jurídicas Universitárias", "Desafios na busca pela qualidade processual e dos atendimentos", entre vários outros.
Clique aqui para conferir o relato do evento!
Resenha do Documentário "The Celluloid Closet"
O Outro Lado de Hollywood
Por Vicentte Jalowitzki de Quadros
O documentário “O Outro Lado de Hollywood” trata da evolução da representação dos homossexuais no cinema. O texto paralelo é de Guacira Lopes Louro, que também faz uma análise do histórico das caracterizações das sexualidades “normais” e “desviantes” pelas lentes da sétima arte.
O famoso Código Hays, instituído em 1934, ditou as regras de adequação para o cinema, através de três “Princípios Gerais”¹:
Nenhum filme que possa reduzir o padrão moral de seus espectadores deverá ser produzido. Por esse motivo, a empatia da platéia nunca deve ser induzida para o crime, a transgressão, o mal ou o pecado.
Os padrões corretos de vida, sujeitos somente aos requisitos do enredo e do entretenimento, devem ser apresentados.
A Lei, natural ou humana, não deve ser ridicularizada, bem como a empatia do público não deve ser alinhada a essa violação.
Além dos Princípios Gerais, absurdos por si só (qual o padrão moral dos espectadores?), havia também restrições mais específicas, ou “Aplicações Particulares”, entre as quais se inclui: “referências a perversões sexuais (como a homossexualidade) são proibidas"².
Devido às restrições dessa “cartilha de defesa da moral e dos bons costumes”, o cinema passou, a partir da década de 1930, a viver de figuras de linguagem: metáforas, metonímias e eufemismos passaram a protagonizar os filmes hollywoodianos. Os diretores se contorciam para enganar a censura, e os “pervertidos sexuais” ficaram, por um bom tempo, sem aparecer nas telas do cinema, até que, em 1959, De Repente, no Último Verão introduziu o primeiro homossexual ao mainstream. Desde Sebastian (Caio Fernando Abreu costumava se referir a gays como Sebastians), o homossexual sem rosto, com uma morte merecida no final, foi se humanizando, ganhando personalidade, aparecendo mais claramente, mas sempre estigmatizado, estereotipado, retratado de modo a não merecer a empatia das audiências, como pretendia Hays.
Abordagens mais simpáticas, retratando o homossexual afeminado, excêntrico, a bicha, foram tomadas, sempre tendo nessa personagem um ponto de comédia, um humor intrínseco a ser explorado. A inofensividade, nesses casos, permite que o homossexual saia vivo da história, ganhe a simpatia do público, que se torna cúmplice dessa figura, sem associar a ela o caráter sexual pervertido. Esses estereótipos afetados são tomados como inocentes, e não se pensa noveado alegre como um ser sexual, não se imagina aquela bichinha transando com outro homem, pois é apenas um objeto de entretenimento, não atingindo o ponto crucial do preconceito e da intolerância: a consumação do ato sexual. Enquanto o homossexual é um ser de sexualidade abstrata, que é retratado mais como figura cômica do que como figura dramática, mais em seu aspecto ridículo do que eu seu aspecto humano e real, não há ameaça.
O verdadeiro pânico ocorre quando o gay é retratado como um ser humano, como alguém que poderia estar inserido no cotidiano: o vilão, o psicopata - ou o purpurinado, o saltitante - são distantes demais para abalar. Em ambos os casos, são estereótipos afastados, que não chegam a serem transpostos para a realidade. Filmes como O Segredo de Brokeback Mountaincausam manifestações pró e contra, alvoroço e debates porque retratam pessoas reais, não caricaturas. O desfile semanal de estereótipos em programas de pretensãohumorística, como Zorra Total, Casseta&Planeta, A Praça é Nossa, Pânico na TV e diversos outros não é questionado, pois as características supostamente homossexuais são claramente irreais, e permeiam a vida diária exclusivamente em seu aspecto mais ultrajante: a associação dessas características sabidamente irreais como sendo características homossexuais, promovendo, assim, a homofobia, através da liberdade de tratar gays, lésbicas, travestis e toda e qualquer sexualidade que não a heterossexual (e a heterossexual com seus padrões de heterossexualidade, macheza, feminilidade...) como objetos de escárnio, de humor depreciativo.
Resenha do Filme "XXY"
Os anjos também choram
Por Patrícia Vilanova Becker
Inicio esta resenha buscando uma ordem que não é necessariamente a da narrativa que o filme nos oferece. O filme XXY nos apresenta um(a) Alex adolescente, já com 15 anos, imerso(a) nos conflitos que são atribuídos a esta fase da vida. Todavia, os problemas de Alex iniciam-se ainda no útero da mãe, quando esta(e) é obrigado(a) a responder as inconvenientes perguntas sobre o sexo do bebê. Como afirma Guacira Lopes Louro em “Um Corpo Estranho”:
A declaração “É uma menina!” ou “É um menino!” (...) mais do que uma descrição, pode ser compreendida como uma definição ou decisão sobre um corpo.
Assim, opta-se nessa resenha por partir de Alex quando ainda está no útero materno, uma vez que é aí que se inicia a coação que perseguirá esse sujeito por toda vida: ter de fazer uma escolha acerca do próprio sexo-gênero-sexualidade. Através do relato da mãe de Alex, descobre-se que esta sofria muito durante a gravidez quando questionada sobre o sexo do bebê. Para o pai de Alex, ela(e) era perfeito(a) desde o nascimento, quando este negou-se a submeter o(a) filha(o) a cirurgia “corretiva”.
Observa-se aqui a presença do aparato regulatório de Foucault através da medicina, disposta a determinar um modelo normativo sobre corpo, padronizando-o e docilizando-o. Impossível não fazermos o questionamento acerca da necessidade real dessa cirurgia, uma vez que a condição hermafrodita de Alex em nada afetava a sua saúde. Seria esta uma correção ou uma adaptação aos padrões normativos?
O pai de Alex, ciente do caráter cosmético dessa cirurgia, opta por preservar o(a) filho(a) e muda-se para uma cidade no interior do Uruguai esperando encontrar lá tranqüilidade e distanciamento de pressões sociais. Todavia, chegada a adolescência, momento em que a sexualidade passa a aflorar de maneira mais intensa, seja por fatores biológicos ou culturais, os questionamentos acerca do sexo-gênero-sexualidade de Alex emergem com força.
Alex, até então, havia sido criada(o) tendo como referência o gênero feminino, sendo, inclusive, “medicada(o)” com hormônios femininos para impedir que características masculinas viessem a tona. Todavia, Alex passa a negar-se a tomar tais medicamentos e os pais passam a temer que o lado masculino prevaleça. Com a visita de um casal de amigos e seu filho adolescente, a sexualidade de Alex aflora na medida em que se aproxima e se apaixona pelo menino Álvaro.
Os adolescentes se aproximam e logo Alex revela o desejo de transar com o rapaz e os dois jovens acabam se envolvendo e tendo relações sexuais. Todavia, para a surpresa do menino, que julgava que Alex era apenas mulher, a penetração é feita por Alex e flagrada por seu pai. A partir disso, os pais de Alex passam a vislumbrar a possibilidade dela(e) ser essencialmente um menino. Aqui, observa-se claramente, a idéia do masculino penetrante, expressa no texto de Daniel Welzer-Lang “A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia”:
Pois se trata bem disto, ser homem corresponde ao fato de ser ativo. (...) Aqui também o heterocentrismo constitui categorias. Ele distingue os dominantes, que são os homens ativos, penetrantes, e os outros, aquelas e aqueles que são penetradas/os, logo dominadas/os.
O sofrimento de Alex também é intensificado na medida em que sua condição passa a torna-se pública. Em um primeiro momento, briga com o melhor amigo que conta aos outros que ela(e) é hermafrodita. Alex torna-se um alvo do preconceito e da violência, sendo estuprada(o) por rapazes da vizinhança. Nesta medida, Alex tem de escolher entre denunciar seus agressores e tornar pública sua condição ou silenciar a dor e viver sentindo-se clandestina(o). Alex decide pela primeira opção.
A presença do médico cirurgião, que visita a família, perturba o pai de Alex, que passa a cogitar a possibilidade da(o) filho(a) fazer a escolha por um dos sexos. Aqui, torna-se clara a presunção de que o sexo-gênero-sexualidade são elementos relacionados necessariamente na mesma direção. Logo, o fato de Alex ter expressado uma sexualidade tida como masculina ao penetrar Álvaro, faz com que os pais pensem que seu gênero e seu sexo também seguem essa lógica artificial.
Em um momento de emoção, o pai de Alex diz que ela(e) deve escolher, ao que ela(e) responde: “e se não houver nada para escolher?”. O filme encerra-se sem dar-nos resposta, deixando um aberto que sugere que Alex não fez a escolha e que seguirá sua vida de uma maneira que desafia a lógica binária imposta pelas estruturas sociais. Ao que tudo indica, Alex optou por ser tão somente Alex. E isso deve bastar.